por Matheus Zandona Guimarães
A celebração de Rosh Ha Shaná (literalmente: “cabeça ou primeiro do Ano”), marca o início do ano judaico, e é celebrado no primeiro dia do mês de Tishrei. Na verdade, alguns rabinos dizem que Rosh Ha Shaná é o aniversário da criação. Todos sabem que, no calendário bíblico, o ano novo começa com o 1º mês, o mês atual de Nissan (geralmente em março/abril), com a festa da Páscoa como marco. Mas após o exílio na Babilônia, a contagem dos meses sofreu alteração cronológica e nominal, e o primeiro mês passa a ser o sétimo (Tishrei). O dia da Trombeta, ou Yom Teruá, é celebrado no 1º dia do 7º mês, com grande convocação e toque do shofar (Lv 23:24-25).
Rosh Ha Shaná é a única festa celebrada onde não há explicação clara, da parte do Eterno, sobre sua origem ou memorial. Todas as festas no calendário judaico estão associadas a eventos ou à preservação da memória das manifestações do Eterno para com o nosso povo, tal como Páscoa (Libertação do Egito), Shavuót (dádiva da Lei no Sinai) e Sucót (lembrança da peregrinação no deserto). Mas Yom Teruá (Rosh Ha Shaná) não é conectada a nenhum feito ou evento histórico na Torá. Muitos rabinos crêem que Yom Teruá é uma festa que aponta para a vinda do Messias, sendo uma espécie de aviso para que Israel e as nações se preparem para recebê-lo.
Como Yom Kipur (dia da expiação) é celebrado 10 dias após Rosh Ha Shanã, dizemos que Rosh Ha Shanã marca o início do juízo do Eterno sobre a criação, sendo o dia de Yom Kipur o dia do veredicto. Assim, os 10 dias entre Rosh Ha Shaná e Yom Kipur são conhecidos como os “10 dias temíveis” ou “Iamim Noraim”, e é um período de intenso clamor, súplica e arrependimento entre o povo judeu, com o objetivo de voltar-se cada dia ao serviço. Dito assim, um dos cumprimentos mais comuns durante estes dias é: “Tikatev te Techatem” – “seja escrito e selado”! Desejamos isso pois cremos que o Eterno possui o Livro da Vida, e nele são escritos os nomes dos justos.
Durante os 10 dias entre Rosh Ha Shanã e Yom Kipur, nossos nomes são “revisados” pelo Eterno, que os sela em Yom Kipur. A crença da existência desse “Livro da Vida” é proveniente da Lei Oral judaica e também pode ser encontrada nos escritos judaicos do Novo Testamento, onde há várias menções do mesmo: Fp 4:3, Ap 3:5, 17:8, 20:15, e 22:19.
Começamos a celebração de Rosh Ha Shaná com um maravilhoso jantar, acompanhado de algumas orações específicas para esse dia. Comemos nesse dia maçãs com mel que são um símbolo do desejo de um Ano Novo doce e agradável a todos. A chalá (pão de shabat) que é usada no jantar de Rosh Ha Shaná não é comum, pois é redonda (a chalá é trançada). Simbolizando o ciclo da vida que se renova a cada ano. Desde a antiguidade, estipulou-se que a celebração de Rosh Ha Shaná duraria 2 dias, pois no passado não havia certeza do avistamento da lua nova, que dava início à contagem da lua nova. Assim, os dois dias de Rosh Ha Shaná são passados quase sempre na sinagoga, onde tocamos o shofar e oramos um conjunto de orações específicas que estão agrupadas no Machzor (livro de orações para Rosh Ha Shaná e Yom Kipur). Basicamente, são orações de arrependimento, louvor e principalmente arrependimento.
Nesse dia, colocamos sobre o Aron Ha Kodesh (arca que contém o rolo da Torá) uma cortina branca, simbolizando a necessidade de termos um coração puro perante o Eterno.
A leitura da Torá é feita em Gênesis capítulos 21 e 22, relatando o evento da “Akedá”, em que Abraão sobe com seu filho Isaque ao monte Moriá para sacrificá-lo. A Haftará que lemos é a história do profeta Samuel, seu nascimento e seu chamado sacerdotal (1 Sm caps. 1 – 3). É impossível ler essas porções da Tanách e não notarmos uma mesma palavra que é o tema central dos dois eventos: HINENI! Essa pequena palavra em hebraico expressa o que realmente sentimos e o que realmente estamos dispostos a fazer por amor ao nosso D-us: HINENI – EIS-ME AQUI! A expressão HINENI expressa nossa prontidão para obedecer e servir incondicionalmente ao nosso Criador. O sacerdote Eli instruí a Samuel: Hineni – Daher Adonai ki shomêa avdechá – Eis-me aqui! Fala Senhor pois está a ouvir teu servo!
Que possamos ter o espírito de Abraão e o espírito de Samuel, sermos verdadeiros que não se preocupavam apenas em crer em D-us, mas em obedecê-Lo de todo o coração, não importando as circunstâncias. Os que vivem o verdadeiro “HINENI” terão seus nomes escritos e selados no Livro da Vida. Shaná Tová!
