Modernamente, a antroponímia, ramo principal da onomástica, é o estudo dos antropónimos, ou seja, dos nomes próprios dos indivíduos.
A tradição judaica sempre atrelou nomes próprios com seu significado, implicando, assim, uma identificação do futuro de um indivíduo com seu próprio nome. O próprio Nabucodonozor, rei da Babilônia, mudou o nome de quatro cativos hebreus, nobres de Jerusalém, Daniel, Hananinas, Misael e Azarias para Belteshazar, Shadrach, Meshach e Abed-Nego, proveitando dos talentos dos mesmos.
Segundo Elias Lipner, no seu livro “Os Batizados em pé”, na história onomástica dos judeus em Portugal distinguem-se três períodos: o dos genuínos, o dos nomes impostos e o de restauração. O primeiro, segundo este autor, em que o judaísmo era permitido, vai desde o da monarquia portuguesa até 1497; o segundo, inicia-se nesse ano, quando por ordem de D. Manuel foram impostos nomes cristãos aos habitantes judeus; e o terceiro, cujo inicio coincide paralela e cronologicamente com o anterior, desenvolvendo em seguida com a independência, quando uma parte de judeus livres da inquisição começaram a restaurar seus nomes judaicos.
Nos primeiros tempos mantinham seus antigos nomes em público exclusivamente para identificação, na lavratura de documentos jurídicos. Assim, o nome Isaque Latam, donatário das casas de Dom Abravanel no tempo de D. João II, já aparece como “ Lourenço Vaz”, depois do batismo forçado. Geralmente tomavam o nome dos padrinhos de batismo. Muitos que tinham, por exemplo, o sobrenome Abravanel, adotaram o “ Martins”. A história registra o sobrenome Martins empregado por judeus portugueses que posteriormente emigraram-se para Londres- Inglaterra.
Os nomes dos judeus da península ibérica eram também traduzidos do hebraico, ou fonetizados na língua hispânica ou portuguesa, como por exemplo, Tzur para Rocha, Baruch para Benito ou Bendito, Moshe para Moisés, Yehuda para Judá, etc.
Era comum depois do batismo de judeus, depois que eles começaram a emigrar-se para outros países, conservarem o nome de sua cidade natal, como por exemplo, de Miranda, da cidade de Miranda ao norte de Portugal, assim também aqueles que eram de Toledo, de Braga, de Navarro, de Leon, de Coimbra, etc.
Também era comum o judeu tomar as letras finais “EZ” da palavra “Eretz” que quer dizer “terra” em hebraico em alusão a lembrança da terra de seus ancestrais. Assim, tem-se os Perez, os Lopez, os Rodriguez, os Gonzalez, Martinez, etc.
Os nomes bíblicos também incluía nomes de animais para personagens de ambos os sexos, como por exemplo:
- Tzippor – Ave, pássaro
- Yonah – Pombo
- Hanab – Gafanhoto
- Tolá – Varão
- Num – peixe
- Rahel – cerva
- Deborah – abelha
- Yael- cabra da montanha
- Do nome Hayim, vida em hebraico, originou-se do latim, Vita, Vito, Viton, Vital, Vidal, Vida, Vidalon, Vivones.
- Do nome Shem Tob ( Nome Bom), originou-se Nomebom, Bom Nom, Santob, Santo, Sento(em Castilha), Santhon, Centon, Santon ( no reino de Aragão).
- Yom tob – dia Bom, derivou Bondia, bondiag,Bondion, Jento, Gento, Bonfed, Janto no reino de Aragão.
- Tob Elen é trazido por Boa Criança, Bom Menino, Bom Filho, derivou Bon Enfant, Bonfils, Narbonne, Bonfil
- Castiel – aquele que vem de Castilha
- Laredo – aquele que vem da província de Santander
- Medina – de Medina de Pomar, província de Burgos
- Fonseca – de Fonseca – Província de Oviedo
- Miranda – da cidade de Miranda
Exemplos de nomes advindos de particularidades físicas:
- Catan – Pequeno
- Moreno – pele morena
- Amzalag – o Calvo, o Careca
- Guidon ou Guideon – cansado, quebrado, estropiado
- Beloniel – filho do Enfermo, do Fraco
- José- Yosef – ele ajustará
Exemplos de nomes Teofóricos:
- Neemias – Filho do D-us consolará
- Eliezer – Meu D-us socorredor
- Ezra ou Esdras – socorro, ajuda
- Israel – Filho do D-us vencerá
- Shaú – desejado por D-us
- Amiel – Povo de D-us, adoradores
- Daniel – D-us é meu juiz
- Rafael – D-us que cura, etc.
Nomes de animais:
- Lobato – Lobo
- Sabá – Leão
- Efron – Gazela
- Albaz – O Falcão
Relação dos Nomes Patronímicos
A relação dos nomes das famílias sefarditas, como foram grafados na época por pessoas que às vezes pertenciam à mesma família, mas que escreveram seus sobrenomes de modo diferente, como eram pronunciados em sua terra de origem.
O período aqui abrangido corresponde aproximadamente a noventa anos, desde a extinção da Inquisição no Reino Unido de Portugal – Brasil.
- Cadosh – Caén – Caggi- Cahen – Cardozo
- Cohen – Cohim – Coriat – Corte Real
- David – Davila – Delmar
- Elbas – alves
- Fahri – Farahe – Fassi – Fima- Foinquinos- Franco
- Gabay – Gabizón – Galano- Grason- gonçalves- Guenum
- Hachuel – Halevy – Hamouss – Hamoy
- Hazan – Henriques – Hombres- Homem
- Levi – Levin- Ley – Lopez- Loreti
- Maimarán – malaquias – Marques – Mathias- Medina- Melo- Mendes-Meyer- Moreno
- Pacífico – Pazuelo- Peres – Perez- Pinto- Primo
- Sabá – Scrão – Salgado- Samuel- Secrón- Semana
- Sentob- Serfati Serigue- Serruya- Serulha
- Sinay – Sion- Siqueira- Soares- Suaha-Suzanna
- Tapiero – Taub- Titan-Tolebem-toedano-Tzion
- Yahir- Yair- Jair- Yosseph
- Zagury-Zanzon-Zetune
É importante ressaltar que os nomes hebraicos sempre assimilou os nomes do país ou da localidade. Os nomes dos judeus Ashkenazim são bons exemplos. Por exemplo, na bíblia não se encontra os Goldstein, Rosengaus, Rosemberg, Eistein, Weissman, kaufman, Silberman, Freud,etc. São nomes típicamente germânicos. Da mesma forma, nomes como Polansky, Sharansky, Lavinsky são exemplos de nomes poloneses.
Idem Costeau, Costin, Bom Enfant são franceses. Já os nomes dos Sefarditas da Espanha encontramos aqueles que mantiveram seus hebraicos, como Abravanel, Perez, Levy, Cohen, etc. e outros que foram assimilados da língua espanhola, como Ximenez, Lopez, Rodriguez, Gonzalez, etc. Já em Portugal, encontramos os Miranda, os Cardozo, os Pintos, Almeida, Azeredo, Azevedo, os Martins, os Costas, Nogueira, Pereira, Teixeira, etc.
Fica uma ressalva que os nomes sefarditas devem ser preservados, quebrando todo e qualquer tipo de preconceito junto as comunidades judaicas. Como a maioria dos judeus Ashknazi possuem e preservaram seus nomes germânicos, poloneses e russos, etc.
Da mesma forma que nem todo kaufman ou Rosemberg é judeu, da mesma forma nem todo Miranda ou Pinto também. vSe falamos agora da restauração dos cristãos-novos ou marranos às suas raízes judaicas, devemos também preservar os nomes hispânico-portugueses, pois são autênticos e históricos.