Falando, falando, já que falamos de nós por que não falar dos outros também? Só que vamos falar de nós judeus e dos outros judeus. Começando do começo, vamos definir as coisas.
O que é um Cohen?
Um Cohen é um sacerdote descendente de Aarão. Os Cohanín eram os sacerdotes do Templo.
Hoje, não temos mais o Templo, mas, temos ainda, os Cohanín que possuem privilégios e obrigações.
Um Cohen é o primeiro a ser chamado quando se lê a Torá publicamente na Sinagoga e, em certas ocasiões, os Cohanín abençoam a Congregação com a “Bircát Cohanín” (Benção Sacerdotal).
Um Cohen não pode casar com mulher divorciada, chalutsá ou convertida. Não pode ter contato com os mortos, com os necrotérios e cemitérios. É chamado primeiro à Torá como homenagem e não pode casar com as mulheres citadas, porque, para um sacerdote, não está correto e não lida com os mortos, por causa das leis de pureza.
Sendo um Cohen um sacerdote, o que é um rabino?
Um rabino é uma pessoa especial na comunidade, líder religioso, sabe a Lei e para a Congregação, ele deve ser como o juiz.
Tem autoridade para decidir questões referentes à esta mesma lei. O sacerdote tinha uma relação especial com D-us, como é o caso dos Cohanín que herdaram sua condição sacerdotal de seus antepassados nomeados por D-us, na Torá, Aarão, seus filhos e seus descendentes.
Leviím
E quem são os Leviím? São uma outra categoria de judeus. Não foram escolhidos por D-us para serem sacerdotes, mas sim, para serem seus assistentes. E assim foi no Templo.
Depois do Cohen ser chamado à Torá, chama-se um Levi. Uma de suas funções era ajudar os Cohanín a lavar as mãos antes da bênção sacerdotal.
A outra categoria somos nós judeus que nos dividimos em várias situações, os mais conhecidos Sefaradím, Askenazím e, hoje em dia, Falashas, mas ainda há outros ramos.
Existem comunidades que ainda são ou eram antigamente consideradas judaicas. Algumas de origem judaica desligaram-se da parte central do povo judeu. Pela lei, os judeus não podem casar com eles, nem comer a comida deles “que não é casher”. Enfim, o judeu mais ortodoxo, não tem nada a ver com estes outros judeus.
Primeiro, os Karaím ou caraítas. Eles saíram da parte central do povo judeu no século VIII da Era Comum. Eles seguem apenas a Bíblia Hebraica e não aceitam a Lei Oral.
Usam o hebraico nas cerimônias religiosas e, até mesmo, falam e escrevem no mesmo normalmente.
No Cairo, existia a maior congregação Karaíta, que imigrou na maioria para Israel.
Na Rússia, existem milhares, na Criméia e também na Lituânia e Polônia. Há ainda uma comunidade pequena em Stambul e uma menor no Iraque mas, sempre estão saindo para Israel.
Os Karaím que ainda vivem na Europa falam o idioma tártaro, por isso, acredita-se que estes descendem dos Karazes, o reino turco-tártaro que se converteu ao Judaísmo nos anos 800 da Era Comum.
O Estado de Israel recolheu os Karaím para que eles pudessem imigrar. Em Israel existem vários caraítas.
O casamento com outros judeus é proibido pelos rabinos e os divórcios caraítas não são reconhecidos, mas, já existe uma pequena mistura.
Os shomroním
Este grupo, “samaritanos” chamam-se “shomroním” em hebraico. Em Israel, eles moram em Holon e Nablus. Eles usam a mesma Bíblia Hebraica, só que, em vez de Jerusalém, o monte Gerizím é o centro de sua devoção.
Neste monte, eles celebram Pêssach à noite numa bela cerimônia que dura a noite toda com sacrifícios de carneiros, que cozinham e comem e com serviços religiosos especiais.
Eles usam a Torá e tem sua tradição oral particular diferente da nossa e dos Karaím. São reconhecidos em Israel como judeus, mas, o casamento com outros, é proibido pela Lei judaica.
Sabatianos ou Doenmeh
No século XVII, surgiu um falso Messias na Turquia, Shabtái Zvi e grande quantidade de judeus passou a segui-lo. No ápice de sua influência, mais da metade dos judeus da Europa acreditou nele. Depois, Shabtái converteu-se ao Islamismo e poucos ficaram com ele. Este grupo também convertido, manteve um judaísmo secreto entre si mesmos.
Viveram em Salônica, na Grécia e hoje vivem na Turquia. Por fora, são mulçumanos, mas, por dentro, são judeus. Usam o ladino e o hebraico. Este ramo ainda não foi reconhecido.
Os Franquistas
Um dos seguidores de Shabtái foi Jacob Frank, que se tornou chefe de um grupo de judeus sabatianos na Europa Oriental. Converteu-se ao catolicismo; alguns o seguiram, mas, não todos. Os que ficaram fora da conversão, viveram como judeus secretos, mas, existiram só até o século passado, depois, perderam-se no meio católico da Polônia.
Marranos e Cristãos Novos
Hoje sabemos que existem grandes grupos de judeus marranos vivendo em Portugal, particularmente em Guarda e Belmonte. Já o Brasil após o seu descobrimento, tornou-se a maior concentração de marranos e cristãos novos. Noutras palavras, maior concentração destes descendentes.
Essas pessoas nunca deixaram de considerar-se judias, casam entre si e conhecem pouco o hebraico.
Hoje, estão sendo enviados missionários judeus para lá, a fim de levá-los ao judaísmo pleno e para que possam emigrar para Israel.
Chuetas
Estes vivem em Majorca e são católicos romanos. São descendentes de judeus conversos e moram em bairros separados na cidade de Majorca. Casam entre si e são desprezados de uma forma ou de outra por seus vizinhos cristãos. Não se conhece prática judaica entre eles; seguem o catolicismo fielmente, pelo menos é o que se sabe.
Estes grupos fazem parte dos “Outros” a que nos referimos. Agora, a nossa parte. Começemos com os sefaradím. Sefarád ou Espanha é o berço dos judeus sefaradím e também Portugal. As comunidades judaicas de fala árabe, persa, turca, que não são descendentes dos judeus espanhóis e portugueses estão incluídos no grupo sefaradita.
Muitos sefaradím descendem de judeus do exílio babilônico e, mais tarde, após a destruição do 2º Templo, muitos judeus saíram de Israel. Hoje, existem sefaradím em todas as partes do mundo, na Europa, na Ásia, na África e América. Os judeus de língua árabe, sírios, libaneses, egípcios e iraquianos não são na maioria descendentes dos espanhóis, mas, são chamados sefaradím. Estes judeus falam árabe.
Os judeus da África do Norte falam francês e espanhol e, na sua maioria, são de origem espanhola.
Os de fala bérbere e árabe podem ser chamados sefaradím, mas, são parte do que chamamos “outros judeus”.
DIFERENÇAS ENTRE ASKENAZÍM E SEFARADÍM
A diferença está no pensamento. Vivem a seu modo, cada grupo tem sua própria sinagoga, sua própria escola, açougues, etc.
A comida é diferente, a língua é diferente, o ladino e o yídishe e as cerimônias religiosas tem pequenas diferenças no ritual. Falam o hebraico de maneira diversa. Divergem na maioria de dar nome aos filhos, os sefaradím usam nomes de parentes vivos, ao passo que, os askenazím, não.
Na Festa de Pêssach, os alimentos proibidos são diferentes. Alguns. Na teoria, os sefaradím podem ter duas esposas enquanto que, os askenazím, tem de seguir a monogamia. Não há grande diferença e as que existem hoje são bem simples de resolver.
Embora tenham características próprias, todos são judeus. Pode-se freqüentar perfeitamente uma sinagoga de sefaradím ou askenazím.
No Panamá, a maior sinagoga ortodoxa é da comunidade árabe e todos rezam lá. Nas Filipinas, há uma única comunidade com judeus das duas congregações. Vemos assim, que askenazím ou sefaradím no fim dá certo.
Os outros judeus africanos são na maioria askenazím, África do Sul, África do Norte, Egito e Congo.
Existem na Etiópia os judeus negros que falam as línguas semitas tigre e tigúnia e se dizem descendentes de Salomão de da rainha de Sabá, os nossos falashas. A Índia tem quatro comunidades distintas. Os mais conhecidos são os Bnêi Israel de Bombaim, têm pele bem morena, falam o idioma “marata”, só diferem dos indianos na religião.
No sul da Índia há os cochim na costa Malabar. Falam o “malaiala” – idioma chavídico. Também em Cochim há outra comunidade separada dos “pardesi” que são bem mais claros na pele, têm sinagogas separadas e cada grupo casa-se no seu meio.Os judeus de Calcutá são os Baghdalé. Também vivem em Bombaim e são descendentes dos judeus do Iraque e falam árabe.
A Bumânia tem judeus Baghdali e Benê Israel. Na China e Hong Kong existem comunidades, são milenares e descendem das pessoas que vieram da Mesopotâmia. Hoje na Mandahuria, Harbin, Xangari e Hong Kong existem judeus que falam yídishe, russo e árabe. Eles mesmos se denominam Yotsêi Sin “os que saíram da China” e hoje estão também em Tóquio e São Francisco.
Na Europa existem outros grupos judaicos. São os Krimchaks de fala tártara – criméia (não confundir com os Karaím) e os judeus caucasianos da Geórgia. São totalmente judeus, mas, não podem ser chamados askenazím nem sefaradím. Os krimchaks foram massacrados pelos alemães na segunda guerra mundial. Eles falam o tat, um dialeto persa misturado com hebraico, turco e caucasiano.
Os judeus da Geórgia falam o Georgiano. Nas Américas e no Brasil há judeus vindos de várias partes do mundo e não há grandes diferenças. As comunidades vivem lado a lado sem problemas, graças a D-us.
O povo judeu é o nosso povo. O povo judeu é cada um de nós. Conhecemos nosso passado, vivemos nosso presente e acreditamos no nosso futuro. Mazál Tov (Boa Sorte).
Shalom!