27.02.2019 – Homenagem na Assembleia Legislativa do Espírito Santo – DEP. Wandinho Leite.
Primeiramente, muito agradeço por este convite e congratulo-me com o Presidente desta casa e com o Deputado Wandinho Leite por esta iniciativa, juntamente com sua esposa Mônica e o Rosh Francisco Cardoso líder da Congregação Hessed v´Emet por esta nobre e importante solenidade “Restauração da Aliança Brasil e Israel.”
Prezadas senhoras e senhores, componentes desta mesa, prezado Rabino Jospeh Shulam, demais autoridades presentes, meus queridos e queridas irmãos e irmãs na fé, shalom!
Por ocasião da posse do novo Presidente do Brasil, Sr. Jair Messias Bolsonaro, apoiador desta aproximação Brasil-Israel, eu tive a oportunidade de ter sido convidado para um encontro com o Primeiro Ministro de Israel, Sr. Benyamin Netaniahu, no Hotel Hilton, no Rio de Janeiro.
Nesse encontro, ele iniciou seu discurso com a frase: “Afirmo que neste tempo de antissemitismo no mundo, Israel só tem um grande amigo: os Cristãos; e que estes também só têm um amigo, Israel”.
Além do mais, ele disse outra frase importante: “Israel tem débitos para com o Brasil. Primeiro, porque esta terra recebeu os judeus que fugiram da inquisição portuguesa, sendo esses um dos primeiros colonizadores do Brasil; segundo, através de um brasileiro, Sr. Oswaldo Graça Aranha, que presidiu a comissão da ONU em 1948, decretou por voto minerva, a Resolução 181, criando, assim, o Estado de Israel e terceira razão deste débito, o Brasil recebeu milhares de judeus que para cá imigraram no período pré e pós II guerra mundial.”
Sem dúvida, após um longo tempo dos governos anteriores não ter tido Israel como parceiro, estamos agora esperançosos que através do novo presidente, esta amizade seja reatada e que esta aliança traga um tempo de bênçãos para o Brasil e para o povo brasileiro.
Não há como não se lembrar do mandamento de D´us dado e dito a Abraão, nosso pai da fé:
“Abençoarei os que abençoarem (referindo a Israel e seu povo), e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem “ (Gn 12: 3)
Mas, o que o Brasil pode receber ou ganhar com esta aliança com Israel?
Eu creio que haverá ganhos materiais, imateriais e, sobretudo, espirituais.
Como ganhos materiais podemos ressaltar que Israel ajudará o Brasil em termos tecnológicos como a dessalinização da água do mar; geração de energia através de fontes renováveis; na ciência da informação, incluindo lançamento de satélites; na área da agricultura, fazendo florir o sertão do nordeste; na área da saúde e até mesmo na logística armamentista, por exemplo. Podemos ainda destacar e esperar benefícios nas áreas da Educação, das Ciências Humanas e na área da Economia (lembrando que 41% dos prêmios nobeis na área de economia foram recebidos por judeus). Afinal, dos 850 ganhadores dos prêmios nobeis, 180 são judeus, sendo a maior nação do mundo em ganhar prêmios nobéis, tão uteis à humanidade.
Como ganhos Imateriais (incluindo a teologia e filosofia) não podemos negar os grandes sábios judeus. Estamos trocando uma ideologia adotada pelos governos anteriores que não tem 100 anos de existência por uma cultura de quase 4 mil anos, desde a época dos primeiros hebreus Abraão, Isaque e Jacó, os formadores do povo judeu, o povo da Bíblia. Este é, na minha opinião, o maior legado do povo judeu à humanidade e, por isso, podemos dizer: “ Israel Chai”, Israel Vive!
Mas, eu gostaria, neste momento de tecer algumas palavras sobre o nosso projeto de resgate das raízes judaicas existente em muitos brasileiros que tem em suas veias o sangue hebreu.
Criamos em agosto do ano 2000, a Abradjin, a Associação Brasileira dos Descendentes de Judeus Vítimas da Inquisição. Desde esta data temos ajudado milhares de pessoas que tem buscado a restauração de suas raízes judaicas. Ampliando o nosso projeto, em agosto de 2012, criamos o primeiro Museu da História da Inquisição no Brasil, que tem recebido destaque internacional.
O Museu da Inquisição relata através de documentos históricos, livros, painéis e de seu precioso acervo uma parte história do Brasil colonial não contada nos livros curriculares. Foram mais de três séculos a existência das leis inquisitoriais do Santo Ofício Português que denunciou, extraditou, processou e condenou milhares de brasileiros por crimes de heresia, destacando aqui, os cristãos-novos, judeus, que eram obrigados à conversão forçada ao catolicismo. Segundo a professora Dra. Anita Novinsky da USP, o crime pela prática de judaísmo representou mais de 80% dos processos inquisitoriais, dentre outros casos como o de feitiçaria, bigamia, sacrílegos, apostasia, etc. que eram também denunciados pelos tribunais da Inquisição.
Assim, trazendo à tona essa história, nosso Museu tem contribuído com a sociedade, combatendo à intolerância, sobretudo a religiosa, e ao mesmo tempo queremos trazer à memória aquilo que pode nos dar esperança, ou seja, uma sociedade melhor que promova a dignidade e respeito humano, o direito de crença em nosso país, garantido pela nossa Constituição.
Nesta visão da tolerância, dois fatos passados motivaram muito o desenvolvimento de nosso trabalho. Primeiro, o pedido de perdão aos judeus feito pelo Primeiro Ministro de Portugal, Dr. Mário Soares, em março de 1989, em Castelo de Vide, quando reconheceu as atrocidades cometidas pelo Governo português em relação ao povo judeu no período inquisitorial. E segundo, em junho de 2004, quando o Papa João Paulo II, em Jerusalem, frente ao Muro das Lamentações, pediu perdão também ao povo judeu pelas crueldades praticadas no período da Inquisição.
Nossas Associações, Abradjin e o Museu, já ajudaram centenas e centenas de pessoas, descendentes desses cristãos-novos, a restaurarem as raízes de seus ancestrais, principalmente a partir de fevereiro de 2015, quando Portugal por meio de uma lei federal de número 30A tem dado o direito à cidadania portuguesa a todo descendente de judeus que fugiram por causa da Inquisição.
Finalmente, gostaria de encerrar, perguntando a todos: – vocês sabiam que muitos cristãos-novos vieram para a Capitania do Espirito Santo e aqui também foram perseguidos?
Comecemos com o grande Padre José de Anchieta, ícone no Estado do Espirito Santo, quando aqui chegou no final do século XVI. Ele era descendente de cristãos-novos, pois seu bisavô era judeu e morreu queimado nas fogueiras da Inquisição portuguesa. Já em 1591, após a primeira visitação oficial do Inquisidor Heitor Furtado de Mendonça, dois capixabas foram aqui indiciados pela inquisição: Antónia de Bairrios, esposa de Álvaro Chaveiro que mudou da Bahia para a capitania do Espirito Santo devido à perseguição da inquisição e também Antônia de Oliveira que foi acusada de prática de judaísmo nesta capitania.
Ainda temos alguns cristãos-novos da Capitania do Espirito Santo que foram denunciados em 1628 – Aires Nunes d´Ávila e em 1680, Lourenço de Souza.
Porém, a pessoa mais perseguida na Capitania do Espirito Santo foi Brás Gomes de Siqueira que foi extraditado para Lisboa, acusado de crime de judaísmo. Ele morreu na prisão, antes da sua iminente execução na fogueira, pois no seu laudo constava a afirmativa que ele era judeu convicto, negativo e pertinaz quanto à sua condenação em 01 de outubro de 1729, segundo o estudo do historiados José Gonçalves Salvador. Brás Gomes foi queimado em estátua.
Após o ciclo do ouro em Minas Gerais, vários cristãos-novos que viviam da exploração do ouro e pedras preciosas, migraram-se para o Estado do Espírito Santo.
Esta migração se acentuou quando D. João abre o Caminho Novo, a Estrada Real, no século XVIII, ligando Ouro Preto à Vitória.
Há ainda muita história para ser contada, mas deixarei para uma outra oportunidade. Indo a Belo Horizonte, não deixem de visitar nosso Museu da História da Inquisição.
Nossa esperança é que continuemos a resgatar nossa história, a história de nosso povo e de nosso país.
Finalmente, eu dedico esta homenagem que hoje recebo nesta egrégia casa ao povo desta abençoada terra que carrega em si o Bendito nome: Espírito Santo, o Santo de Israel.
Meu muito obrigado a todos,
Marcelo Miranda Guimarães
Diretor-Fundador da Abradjin e do Museu da História da Inquisição
Rabino messiânico titular da Congregação Judaico-Messiânica Har Tzion em Belo Horizonte-MG